Analistas avaliam que o núcleo duro do eleitorado bolsonarista em Manaus manterá o apoio apesar das medidas tomadas pelo presidente que fere de morte a Zona Franca.
Os eleitores do Amazonas representam 1,7% do eleitorado brasileiro. Em 2018, 65,7% do eleitorado de Manaus votou em Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais (Foto: Divulgação)
Medidas como a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), que afeta a competitividade da Zona Franca de Manaus (ZFM), podem minar a votação do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Amazonas, especialmente, no segundo turno das eleições gerais de outubro. No interior do Estado, onde o presidente só ganhou em três municípios em 2018, a perda de votos pode ser maior. É o que apontam analistas políticos.
Para os analistas, correligionários do presidente no Estado também podem ficar menos competitivos após a edição dos decretos que reduzem o IPI em 35% e o outro que zera o IPI dos concentrados, ambos publicados na quinta-feira passada.
Para o cientista político Helso Ribeiro, a redução do IPI é eleitoreira, justamente porque corre anunciada apenas durante o ano eleitoral. Ribeiro salienta que o eleitorado do Amazonas é pequeno comparado ao resto do país.
“Na eleição passada, o presidente ganhou bonito em Manaus, mas ele só ganhou em três municípios do Amazonas. Acredito que os municípios do interior vão virar as costas ainda mais para o presidente. O Amazonas tem 4,2 milhões de habitantes e o Brasil mais de 200 milhões. Eles não se importam com a gente”, analisa Ribeiro.
Professor de Administração da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o dono da Action Pesquisas, Afranio Soares, afirma que a postura do presidente referente à ZFM pode prejudicar Bolsonaro num eventual segundo turno para a corrida presidencial.
Se a eleição fosse hoje, Afrânio projeta que, no Amazonas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganharia com 8 a 10 pontos percentuais à frente de Bolsonaro. Se a questão do IPI for trabalhada da maneira correta, essa vantagem do petista ainda pode aumentar.
“Talvez no segundo turno isso tenha algum impacto, mas no primeiro essa diferença que o presidente venha a perder não compromete a ida dele para o segundo turno, não. Se essa redução for explorada claramente, mostrando os benefícios e os malefícios, benefícios do Polo e malefícios da redução de imposto, acho que em Manaus também impacta”, analisou.
Segundo Helso Ribeiro, em Manaus, o eleitor do presidente, o considerado mais raiz, dificilmente consegue entender os efeitos da redução do IPI. Ribeiro classificou essa parcela do eleitorado do Amazonas de “focas” por bater palma para tudo que o presidente faz, inclusive para o “cometa Paulo Guedes”, em referência ao ministro da Economia.
Um caso registrado no sábado passado, em Tefé, exemplifica a análise do cientista político. Na ocasião, um apoiador do presidente, identificado como Paulo Igson, agrediu verbalmente uma comitiva composta pelo senador Omar Aziz (PSD) e pelos deputados federais Marcelo Ramos e Sidney Leite, que também integram o PSD. Os três políticos hostilizados estão na lista dos que mais fazem oposição às políticas de Bolsonaro contra a ZFM.
O cientista social Carlos Santiago lembra que o atual embate pela defesa das vantagens comparativas da ZFM remonta às eleições passadas disputadas entre PT e o PSDB. Na época, de um lado, o Partido dos Trabalhadores se colocava como defensor da ZFM e do outro, o Partido Social da Democracia Brasileira questionava o modelo alicerçado em renúncias fiscais.
De acordo com Santiago, assim como foi o caso do PSDB no Amazonas, que por conta da postura crítica à Zona Franca, não teve votações significativas no Estado, aliados do presidente Bolsonaro também podem ter dificuldade para deslanchar nas eleições.
“Pode afetar os correligionários do presidente Bolsonaro à medida que estes apoiadores fazem parte da narrativa que critica e que toma medidas contrárias ao modelo Zona Franca. Isso acaba de qualquer forma ajudando os políticos que estão fazendo a defesa da Zona Franca”, analisou.
Conforme dados disponibilizados pelo TSE, o Amazonas possui 2,4 milhões de eleitores. Os eleitores do Estado representam 1,7% do eleitorado brasileiro. Em 2018, 65,7% do eleitorado de Manaus votou em Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais. Foram 686,9 mil votos contra 34,2% obtidos pelo candidato do PT, Fernando Haddad.
Texto: Jefferson Ramos
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