Pesquisador Lucas Ferrante disse que o garimpo ilegal deve ser criminalizado para evitar danos a economia do Amazonas. Deputado Roberto Cidade quer legalizar atividade.
Presidente da Assembleia, deputado Roberto Cidade se comprometeu a regulamentar a garimpagem (Foto: Divulgação/Greenpeace)
A invasão de balsas de garimpo ilegal no leito do rio Madeira, extraindo ouro entre as cidades de Autazes e Nova Olinda do Norte, a 120 km em linha reta de Manaus, vai criar bancos de areia, dificultando a navegação mercante e infectar peixes e água por conta do mercúrio usado na extração.
A afirmação é do doutorando do programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante. Ele ressalta ainda que o garimpo ilegal deve ser imediatamente criminalizando para evitar danos a economia do Amazonas.
Ferrante explica que o mercúrio intoxica a vida marinha, em especial peixes e a própria água, que sustentam a dieta diária de povos indígenas e ribeirinhos.
“Esse impacto do garimpo na água do Madeira tende ser especialmente prejudicial para a vida do ribeirinho amazônico, afetando diretamente o seu modo de vida. Essas pessoas vão ser drasticamente afetadas por começarem a se tornar isoladas pelos bancos de areia que vão se formar, principalmente no período de seca e ainda vão ter alimento e água de péssima qualidade com risco para a saúde”, prevê o estudioso da área.
Ainda conforme o doutorando do Inpa, o mercúrio na região amazônica está associado, por exemplo, à síndrome de Minamata, que foi descoberta no Japão depois que pessoas expostas a metais pesados começaram a apresentar uma série de problemas neurológicos.
Ferrante alerta ainda que os preços dos alimentos em Manaus podem sofrer aumento por causa do garimpo ilegal no Madeira.
“Se no período de seca o transporte, de pessoas e cargas, no rio Madeira já é complicado, isso deve se agravar com as balsas de garimpo. Para o setor da navegação é terrível e se recomenda imediatamente a retirada de todas essas balsas de garimpo da região”, diz.
“Precisamos lembrar que isso tem impacto inclusive nos preços dos produtos que são transportados via cabotagem pelo Madeira. A maior conexão do sudeste do Brasil com Manaus é o Rio Madeira. É um rio de extrema importância e não é do interesse da população que esse rio se torne intrafegável pela atividade de garimpo”, conclui Lucas.
Em meio às discussões sobre as problemáticas que podem resultar nessa concentração de balsas no Madeira, o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado Roberto Cidade (PV), disse na sessão plenária de ontem (24) que pretende destravar a legalização da mineração no Amazonas.
Cidade aponta que a legalização vai coibir a prática ilegal de garimpo.
Um movimento similar aconteceu em Rondônia, quando o governo estadual regulamentou garimpos no seu território e provocou uma corrida ao ouro que invadiu o sul do Amazonas, rio Madeira acima até a atual região.
Texto: Jefferson Ramos
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