quinta-feira, 18 de abril de 2024

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E-mails da Saúde atestam que Manaus serviu como 'cobaia' na pandemia

Documentos encaminhados a CPI da Covid mostram que Ministério mandou 11 médicos para Manaus no auge da segunda onda com a missão de disseminar uso do tratamento precoce.
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e-mails

Vários senadores criticaram o Governo Federal após a divulgação de e-mails que indicam que o Ministério da Saúde possuía uma estratégia de uso do chamado “kit Covid para o tratamento precoce” no Amazonas, em especial em Manaus, durante a crise que aconteceu nesse estado entre o final de 2020 e o início deste ano. O tal “kit Covid” é composto por medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.

Os documentos fazem parte dos arquivos que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 recebeu e está analisando neste período de recesso. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD), comentou o assunto em suas redes sociais. Para ele, o Amazonas, estado que ele representa, foi usado como “cobaia” pelo Governo Federal.

“Não há dúvidas de que houve crime sanitário e contra a vida. Usaram o Amazonas como cobaia. E, quanto à vacina, a omissão do governo foi muito grande. Principalmente Manaus, que foi usada como cobaia para experimentos com medicamentos sem qualquer eficácia comprovada [contra a Covid-19]. Isso é muito sério, especialmente no momento que foi, durante a crise da falta de oxigênio. A CPI vai aprofundar essa investigação e os culpados serão responsabilizados”, disse Omar.

O senador Eduardo Braga (MDB) também defende o aprofundamento das investigações da CPI sobre as tentativas do Ministério da Saúde de massificar o uso do “kit covid” no Amazonas.

“Eis mais uma evidência de que devemos ir mais a fundo nas investigações sobre a tragédia que vitimou tantos amazonenses e destruiu tantas famílias. Em janeiro, no auge da crise no Amazonas, o Ministério da Saúde pagou viagem de 11 médicos a Manaus para orientar profissionais da saúde a receitar drogas ineficazes”, ressaltou Braga, que também é parlamentar pelo Amazonas.

Papel da ‘capitã’ no caos que Amazonas viveu

Em entrevista à Agência Senado, o senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, declarou que é “muito grave” a atuação da tal comitiva de médicos. Para Otto, eles poderão estar passíveis a processos.

“É lamentável saber que uma secretária do Ministério da Saúde, chamada de ‘capitã cloroquina’ [referência à Mayra Pinheiro, que seria a responsável por essa comitiva e ocupa o cargo de secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde desse ministério], tenha estimulado o uso desses medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19”. disse Otto. “Transformaram Manaus num laboratório de experiências. Isso levou a óbitos e a outras graves consequências. Enquanto as pessoas precisavam de oxigênio, um grupo de médicos, usavam remédios ineficazes, sem qualquer comprovação científica, como a cloroquina. A CPI prova o grau de irresponsabilidade disso; esses médicos cometeram crime sanitário”, completou o senador baiano.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), a CPI da Covid precisa ouvir novamente Mayra Pinheiro.

“A quantidade de medicamentos que foi vendida nesse período pelas empresas que produzem cloroquina, ivermectina e azitromicina cresceu vertiginosamente. Foi um lucro muito grande, e identificamos uma relação promíscua entre essas empresas e profissionais de saúde que assumiram a prescrição do kit covid”, destacou Humberto.

Tem quem defenda

Por outro lado, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) avalia que o Governo Federal não tentou impor o “kit covid”. Seu argumento, que se assemelha ao que Mayra Pinheiro apresentou durante depoimento à CPI, é de que o Ministério da Saúde apenas buscou oferecer mais uma opção de tratamento para os pacientes.

“Era uma indicação: ‘Olha, quem quer fazer o uso, faça dentro de sua liberdade como médico de receitar e de se responsabilizar pelo seu paciente’. Cada médico se responsabilizaria pelo seu paciente. Não era algo impositivo, ‘tem que’. Era assim: se quisesse, poderia fazer a solicitação, que o estado solicita ao governo [federal] e o governo [federal] envia. Garanto a você que não era imposto, era sugerido”, afirmou Marcos do Val.

Reportagem

A divulgação dos documentos que indicam a estratégia do Ministério da Saúde de usar medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 no Amazonas foi feita na noite de quarta-feira (21) pelo Jornal Nacional. De acordo com a reportagem, o Ministério da Saúde teria pago, em janeiro, a viagem de 11 médicos a Manaus para defender o “tratamento precoce” no combate à pandemia. Esse objetivo estaria comprovado em e-mails que contêm relatórios desses médicos.

Neste momento da pandemia, Manaus experimentou a crise de desabastecimento de oxigênio e uma segunda onda devastadora da doença, que chegou a matar mais de 200 pessoas por dia em função da disseminação da nova variante P1, hoje conhecida como variante Beta.

Num dos e-mails, um dos médicos sugere a abertura de tendas do lado de fora de hospitais, onde seria aplicado exclusivamente o “tratamento precoce”. Ele aponta como um “problema” o fato de as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Manaus locais não possuírem os medicamentos do “kit covid” em “quantidade adequada”, mas argumenta que isso poderia ser resolvido com o uso das tendas — e ressalta que, nas tendas, seria dado aos pacientes o direito de escolha pelo “kit covid”.

Esse médico também teria afirmado que um dos problemas no Amazonas era a resistência de médicos locais em prescreverem o “kit covid”. Além disso, ele e outro colega da comitiva defenderam o treinamento de médicos locais para que estes passem a prescrever os medicamentos sem eficácia comprovada.

Em declaração ao Jornal Nacional, o presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz, questionou: “A troco de quê essa comitiva de médicos agiu dessa forma no Amazonas?”.

Texto: Agência Senado

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